Família é acusada de sequestrar e cegar homem por acreditar que ele ‘tornou’ filho gay, nos Estados Unidos

Uma família da Flórida, nos Estados Unidos, está sendo acusada de tentativa de homicídio e sequestro após a denúncia de um homem que teria sido brutalmente agredido por eles e ficado cego após o ataque. Segundo documentos judiciais obtidos pelo The Washington Post, a agressão teria sido realizada por familiares de seu então namorado, que acreditavam que o homem havia “tornado” seu filho gay.

De acordo com os procuradores responsáveis pelo caso, Inna Makarenko, de 44 anos, Yevhen Makarenko, de 43, e seus dois filhos – Oleh, de 21 anos, e Vladyslav, de 25 – sequestraram o homem em sua casa na praia de Pompano, em agosto do ano passado, e o agrediram deixando-o por 14 horas gravemente ferido.

O caso teve início no final de 2020, quando o homem, que não teve sua identidade revelada, de 31 anos, começou a namorar Oleh, filho mais novo da família. Os registros do tribunal mostram que Oleh tinha a chave do apartamento da vítima, já que ia frequentemente ao local. No meio de 2021, nove meses após o início do relacionamento, os pais de Oleh descobriram o namoro e culparam o homem por ter “tornado o filho gay”.

No dia 6 de agosto, às 1h da manhã, a família de Oleh apareceu na casa da vítima de surpresa e a perseguiram para dentro do apartamento, quando “seguraram (a vítima) e começaram a socar, chutar e bater no seu rosto, cabeça e corpo”, de acordo com informações do mandado judicial reveladas pelo The Washington Post.

“Um deles agarrou um objeto desconhecido e o atingiu no rosto. Depois de cair no chão, ele fingiu estar morto para que acreditassem que ele estava morto e parassem de espancá-lo”, diz o documento.

Aproximadamente 14 horas depois, às 15h, um delegado de polícia, que estava no prédio para um evento não relacionado, estranhou a porta do apartamento aberta e decidiu entrar para checar se havia acontecido algo. Ele encontrou a vítima deitada no chão coberta com o próprio sangue, segundo mostram os registros do tribunal.

O homem não contou imediatamente à polícia o que aconteceu, alegando que estava bebendo e caiu. Apenas seis meses depois decidiu contar aos promotores que “sua memória do incidente” havia retornado e apresentar formalmente a queixa contra Oleh e sua família.

Segundo os promotores, o ataque deixou o homem cego e com ferimentos extensos, como inchaço cerebral, hematomas graves, múltiplas fraturas em seus ossos faciais, mandíbula fraturada e uma concussão.

As contas médicas ultrapassaram 100 mil dólares, apontam registros do tribunal, e o homem, que passou por quatro cirurgias e deve passar por pelo menos mais duas, “foi informado de que provavelmente nunca mais recuperará a visão em nenhum dos olhos novamente”, diz o texto do mandado.

Família nega acusações

A família de Oleh nega as acusações e diz ser inocente. Mas o detetive responsável escreveu no mandado que as alegações do homem e outras evidências apontam para um potencial crime de ódio. No momento, a família está na prisão enquanto aguarda julgamento. “Esse crime foi um ataque sem sentido apenas pelo simples fato de ele ser homossexual”, escreveu o detetive.

Os promotores atribuíram as acusações de Inna, Yevhen e Oleh sob a lei de crimes de ódio do estado da Flórida, o que significa que os três podem ser condenados à prisão perpétua em cada uma das três acusações, diz o The Washington Post.

No comunicado em que anunciaram as acusações de crime de ódio, os promotores ressaltaram que o homem “ficou permanentemente cego e sofreu outros ferimentos graves como resultado do incidente”.

“Ele afirmou que o motivo desse ataque foi porque ele era homossexual, estava namorando Oleh e que a família achava que ele fazia de Oleh um homossexual”, diz o documento.

O advogado da família, Michael Glasser, disse ao canal de televisão americano WFOR que os acusados negam ter atacado o homem e que a credibilidade da vítima deveria ser questionada porque ele esperou seis meses para fazer as acusações.

“Muitos, se não todos, nem conheciam essa pessoa de forma alguma e negaram veementemente estar lá na residência por qualquer incidente”, disse Glasser ao veículo. “Até agora, houve realmente escassa e limítrofe nada remotamente convincente que aponte para esta família ter algo a ver com os ferimentos desse pobre rapaz.”

O Globo