O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou, nesta quinta-feira (20), a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa básica de juros (a Selic) a 10,50% ao ano.
Em entrevista à Rádio Verdinha, de Fortaleza (CE), o mandatário afirmou que a manutenção da taxa, decidida por unanimidade do colegiado na noite de ontem (19), foi uma escolha por “investir no sistema financeiro” e “nos especuladores” e deve afetar negativamente a economia do País.
“Foi uma pena que o Copom manteve, porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro. Porque quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro. Isso tem que ser tratado como gasto”, afirmou.
Durante a conversa, Lula também voltou a questionar a autonomia do Banco Central, aprovada pelo Congresso Nacional por meio de lei complementar, durante o governo de seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Tal dispositivo, dentre outros pontos, definiu o escopo de atuação da autoridade monetária e estabeleceu mandatos estáveis e escalonados para seus diretores − o que na prática faz com que a atual administração tenha que conviver com indicados na gestão anterior, como o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, com quem Lula tem colecionado atritos e que tem mandato até o fim deste ano.
“Eu fui presidente [durante] 8 anos. O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom e do Banco Central. O [Henrique] Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz de hoje. Só que hoje o Meirelles era uma pessoa que eu tinha o poder de tirar, como o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos. Aí resolveram entender que era importante colocar alguém, que tivesse um Banco Central independente, que tivesse autonomia. Ora, autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Autonomia para atender quem?”, afirmou.
Na entrevista, Lula também direcionou críticas ao mercado financeiro e a forma como seu governo é cobrado pelo equilíbrio fiscal − que, na sua visão, normalmente culmina em ajustes que recaem sobre as camadas mais pobres da população.
“Eu estava numa reunião do Orçamento discutindo que temos possibilidade de ter um déficit de R$ 30 bilhões, de R$ 40 bilhões. Aí eu fico olhando do outro lado da folha que me apresentam, só de juros, no ano passado, foram R$ 790 bilhões que a gente pagou. Só de desoneração foram R$ 536 bilhões que deixamos de receber. E toda vez que ficamos discutindo corte, a imprensa fala muito… Vai aumentar o salário mínimo? É gasto. Vai aumentar o professor? É gasto. Por que não transforma em gasto a taxa de juros que nós pagamos?”, indagou.
Fonte: Infomoney
Fonte: Blog do BG