‘Oxigenado’, Festival Mada se arrisca no samba e mantém pluralidade após 26 anos; confira entrevista

“Eu nem imaginava que a gente fosse fazer a segunda edição, pra ser bem sincero”. Esse era o prognóstico do idealizador e diretor do Música Alimento da Alma (Mada), Jomardo Jomas, no fim dos anos 1990, quando tentava engrenar o ainda iniciante festival em Natal, sem nenhum apoio. Em 2024, o evento completa 26 anos de vida consolidado no calendário e se permitindo transitar do rock ao samba e do rap ao tecnobrega.

Sobreviver durante todo esse tempo, resume Jomardo, só foi possível fazendo as coisas “na força do amor…e com um ódio de vez em quando”, brinca.

O Festival Música Alimento da Alma acontece nos dias 18 e 19 de outubro, na Arena das Dunas, em Natal. Mais de 25 atrações foram anunciadas.

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Entre os shows previstos nos palcos principais estão DudaBeat, BaianaSystem, Pitty,Ana Frango Elétrico, Fresno, BK e Djonga(veja programação completa aqui).

Um dos shows mais esperados é o “Xande canta Caetano”, no qual o sambista Xande de Pilares intepreta músicas de Caetano Veloso.

O álbum que dá título ao show foi indicado, no mês de setembro, ao Grammy Latino de 2024 como melhor disco do ano. Essa é categoria máxima da premiação – e que o Brasil não disputa desde 2018, quando Chico Buarque concorreu com o álbum Caravanas.

Mas Xande de Pilares no Mada? Para um festival formado com raízes no rock e no pop, um sambista como atração principal soa estranho?

“A gente tem que acompanhar o que o público está escutando. Teve aquela época de rock. Depois o trap, o rap. Aí veio o funk, ‘vamos simbora’. Aí o samba, ok, não tem problema nenhum, vamos misturar tudo. E assim vai”, explicou Jomardo Jomas em entrevista ao g1.

Para o idealizador do Mada, a mudança também é um reflexo do perfil do público do evento, que também se renovou ao longo desses 26 anos.

“Se você analisar bem, a gente tem várias gerações até chegar essa atual, que é a Geração Z, que é a geração que assiste a Jorge e Mateus e vai direto dançar Miss Tacacá. Então, você já vê que termina sendo o festival acompanhando muito essa mudança”, disse.

Com o evento marcado para os dias 18 e 19 de outubro, a tendência é não haver mais atrações confirmadas para os palcos principais, que já teve os dois dias de programação divulgados. O foco nas últimas semanas, segundo o diretor do Mada, foi reforçar o “after” do evento, que acontece em outro palco na própria Arena das Dunas.

Nos últimos anos, explicou Jomardo Jomas, o Mada tem buscado retomar a festa que acontece após os shows principais com músicas eletrônicas.

“Quando a gente começou, a gente tinha na Ribeira alguns casarões que serviam de after para o festival. Então, rolava música eletrônica nos casarões no Largo da Rua Chile, e isso a gente levou para o Imirá [segunda casa do festival]”, contou.

Desde que o festival passou a acontecer na Arena das Dunas – em 2014 – essa tradição ficou um pouco de lado, segundo o diretor. “A gente sentia falta de ter uma programação eletrônica, principalmente com essa diversidade toda. O tecnobrega, o funk… antes era só house”, contou.

Em pelo menos quatro oportunidades, o Mada apostou em grupos internacionais como atrações principais do festival. A mais recente delas foi em 2018, com a banda escocesa Franz Ferdinand. Desde então, no entanto, esse cenário não se repetiu mais.

Isso não significa, segundo o diretor, que essas bandas tenham saído do campo de visão do festival. Inclusive, ele garante, que o Mada está “prospectando isso para 2025”.

“A ideia nossa é continuar apostando nisso. Se aparecer oportunidade agora pra 2025, a gente vai querer ter, sem sombra de dúvida. Agora a gente vai querer ter de Franz [Ferdinand] pra cima. Porque eu acho que funciona. E na situação que ela veio: a exclusividade no Nordeste ser no Festival Mada”, explicou.

Ele contou que no ano passado o Mada tentou contar com Noel Gallagher, que neste ano de 2024 anunciou ao lado do irmão Liam a volta do Oasis após 15 anos de separação.

“A gente quase conseguiu pra 2023 [uma atração internacional], que foi o Noel. Chegou a conversar, aquela coisa toda, ficou bem, mas terminou que eu acho que já estavam conversando sobre essa volta do Oasis. E terminou que não deu certo”, explicou.

O Mada, contou o diretor, surgiu da vontade dele de preencher a falta de um festival em Natal no fim dos anos 1990, quando havia um boom desses eventos – como Abril pro Rock, Bananada, Porão do Rock – em outras capitais.

Jomardo fechou a primeira edição, correu atrás do que era preciso, mas não tinha nome. Cobrado por um veículo de comunicação, ele – que vem de uma família de músicos – recorreu ao irmão, que o sugeriu ler um escrito dele.

O texto, segundo Jomardo, dizia mais ou menos assim: “Quando acaba a água do homem do sertão, só me resta a música, que alimenta a alma”.

A abreviação de Música Alimento da Alma para Mada, segundo ele, foi por conta dos veículos de imprensa nos dias seguintes, “porque ficava muito grande o nome”. “Eu acho muito melhor Música Alimento da Alma”, contou.

A primeira edição foi gratuita, na Ribeira, com três dias de shows, 18 bandas, e público de cerca de 17 mil pessoas. Ao logo do tempo, o festival passou para o Imirá (na Via Costeira), andou pelo estádio João Câmara (Rocas) e chegou à Arena das Dunas, onde completa uma década.

A expectativa para 2024 é de que o shows tenham mais de 30 mil pessoas nos dois dias na Arena das Dunas.

Fonte: g1 RN