Ministro Paulo Teixeira sobre MST: ‘Não vamos colocar focinheira em ninguém’

Indicado para comandar o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o ministro Paulo Teixeira mal havia chegado à Esplanada quando deparou com uma crise de abrangência nacional. Aliado histórico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) voltou a estampar o noticiário como protagonista de uma nova onda de invasões, inclusive em terras produtivas. Na entrevista desta semana do Amarelas On Air, Teixeira diz que a crise está superada. E considera que houve, acima de tudo, uma “dessintonia” entre o movimento e o novo governo.

Mas o tom pacífico do ministro destoa das reações provocadas pelo chamado Abril Vermelho, jornada de invasões comandadas pelo MST no mês passado. Além de despertarem forte resposta do agronegócio, as invasões tiveram como desdobramento a perspectiva de instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados. Na lista de cotados para a relatoria está ninguém menos que Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro.

Mesmo contribuindo para fortalecer o discurso da oposição contra Lula, o MST custa a baixar o tom. Na semana passada, o líder do movimento Paulo Roberto Rodrigues voltou a desafiar o governo, dizendo que o MST não aceitaria “coleira” nem “focinheira”. Na entrevista a esta colunista, Paulo Teixeira rebateu a fala do líder sem-terra, feita ao jornal Folha de S. Paulo.

“Focinheira nós não vamos colocar em ninguém. Nós respeitamos os movimentos sociais, respeitamos as entidades empresariais e suas opiniões. Mas cabe ao governo pacificar as relações no campo. Não é colocando focinheira, mas é trabalhando num ambiente de diálogo, respeitando a Constituição e avançando no programa de reforma agrária”, afirmou o ministro. “O que nós queremos neste momento não é botar focinheira em ninguém, é avançar no programa de reforma agrária. Porque, ao invés de ocupar, eles (os sem-terra) se ocuparão de produzir comida.”

O lançamento de um novo plano de reforma agrária agora está prometido pelo governo para maio, mas a data do anúncio ainda está sendo alinhada com o presidente Lula. Teixeira nega que se trate de um afago ao MST em resposta às invasões. Segundo ele, o programa já estava desenhado e inclui uma meta ambiciosa de novas terras a serem incorporadas à reforma agrária, com potencial de encher os olhos dos sem-terra. Com base nisso, o ministro rebateu Rodrigues mais uma vez, negando que o governo fará pouco nessa área.

“Pouquinho coisa nenhuma. Nós vamos apresentar um programa maior que o apresentado no primeiro ano do primeiro governo Lula, no primeiro ano do segundo governo do presidente Lula, no primeiro ano do governo da Dilma”, afirmou Paulo Teixeira, contestando o discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro de que seu governo liderou a titulação de terras aos assentados.

VEJA