Durante a turbulência do voo da Air Europa que fez um pouso de emergência no Aeroporto de Natal passageiros “voaram” para o teto do avião e alguns ficaram presos acima do compartimento de bagagens. Especialistas explicam que os passageiros foram arremessados por causa da queda brusca da aeronave que desceu cerca de 150 metros.
O avião fazia um voo de Madri (Espanha) para Montevidéu (Uruguai) e estava com 325 passageiros quando enfrentou a turbulência.
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O meteorologista David Mendes, do Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas e da pós-graduação em Engenharia Aeroespacial da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), informou que o descenso do avião, que estava a 940 km/h, foi entre 100 e 150 metros (entre 300 e 400 pés, como é medido na escala aeronáutica).
“Não foi muito acentuado, mas foi suficiente pra ter ocorrido danos estruturais dentro da aeronave”, disse.
Ele explicou que quando um avião cai rapidamente durante a turbulência, os passageiros dentro da aeronave experimentam uma sensação de queda livre. Se não estiverem com os cintos de segurança afivelados, a inércia faz com que seus corpos continuem na mesma trajetória original enquanto o avião desce, resultando na sensação de serem arremessados para cima em relação ao assento.
A turbulência, segundo os especialistas, aconteceu em um trecho conhecido como Zona de Convergência Intertropical, que fica no Oceano Atlântico e é conhecido por instabilidades meteorológicas.
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Jorge Eduardo Leal Medeiros, piloto, engenheiro aeronáutico e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), explicou que os passageiros que ‘voaram’ dentro do avião possivelmente estavam sem os cintos de segurança. “Se tivessem com o cinto, dificilmente isso teria acontecido”, disse.
O especialista explicou que os aviões possuem uma resistência muito grande para enfrentar as turbulências, mas que é importante que haja uma insistência da tripulação para que os passageiros permaneçam de cinto durante os voos.
“Principalmente quando se atravessa dessa região de Zona Intertropical, que tem mais turbulências, as turbulências de ar claro, que não tem como detectar com o radar”, explicou.
Segundo o professor, as turbulências não causam perdas de altitudes relevantes no avião, mas a aeronave sofre mais variações no trecho em questão. Apesar disso, tem estrutura suficiente para passar com segurança.
“O avião vai para cima e para baixo em uma turbulência, não é questão de perda de altitude”, disse. “Os aviões aguentam uma turbulência muito grande, mas todos precisam estar preparados”, completou.
Segundo o meteorologista da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), Gilmar Bristot, as turbulências ocorrem como consequências de movimentos do ar, que podem ser ascendentes ou descendentes.
“Nessa época do ano, a Zona de Convergência fica mais ao norte da faixa equatorial e, nessa região, normalmente se tem formação de instabilidades. As instabilidades meteorológicas normalmente causam correntes ascendentes, ou seja, o ar é forçado a subir causando a formação de tempestades”, explicou.
Ao redor dessas regiões, no entanto, os movimentos são descendentes, segundo o meteorologista.
“Foi o que aconteceu com essa aeronave: ela foi submetida a uma corrente descendente, fazendo com que o avião perdesse sua sustentabilidade. E tudo o que estava dentro do avião sem estar preso à aeronave foi jogado em um movimento contrário”, disse.
“É uma região que realmente nessa época do ano traz muita turbulência para todas as aeronaves que cruzam no sentido Europa, África e América do Sul”, completou o meteorologista David Mendes.
Fonte: g1 RN